Do EXTRA:
Policiais militares roubavam cargas de botijões de gás de comerciantes da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, que não tinham autorização do tráfico para vender o produto. Uma investigação da Corregedoria da PM revela que um sargento lotado no Comando de Polícia Ambiental (CPAM) era o dono do único depósito de gás autorizado pelo traficante Fernando Gomes Freitas, o Fernandinho Guarabu — chefe do tráfico da região morto na semana passada —, a vender botijões. De acordo com o Inquérito Policial Militar (IPM), o agente e sua quadrilha, integrada por pelo menos mais sete policiais militares, pagavam R$ 80 mil mensais ao tráfico para ter exclusividade nas vendas de gás no bairro.
A investigação teve início depois que um comerciante procurou a Corregedoria para denunciar o esquema. Segundo seu depoimento, o policial militar e seus comparsas roubaram 38 botijões de gás que estavam dentro de um caminhão de sua empresa que entrava na Ilha do Governador em setembro do ano passado. O motorista do caminhão, que também prestou depoimento, ainda afirmou que foi ameaçado pelo policial militar: se a empresa continuasse vendendo botijões, o homem seria levado a traficantes do Morro do Dendê “para um corretivo”. Outro dono de uma distribuidora de gás confirmou, em depoimento, que o PM “ameaça todos os comerciantes que não obedecem suas ordens”.
Entre os policiais investigados por integrar a quadrilha, há um tenente e um cabo da reserva. Os agentes são lotados em quatro batalhões diferentes. Na semana passada, a Corregedoria cumpriu mandados de busca e apreensão contra os PMs. A operação acabou levando à morte de Fernandinho Guarabu e outros quatro comparsas que furaram um bloqueio feito por policiais do Batalhão de Choque durante a ação.
Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça também revelam um aumento recente no valor pago pela quadrilha dos PMs aos traficantes. Numa das ligações, um sócio do PM afirma a outro comparsa que o chefe do grupo “tá conseguindo o compromisso lá do de cima, tá pagando direitinho” e explica que “a companhia tá ajudando ele a pagar o morro”. O interlocutor pergunta sobre o valor pago aos traficantes: “Aumentou pra R$ 80 ou tá os 70 mil ainda?”. “R$ 80”, responde o sócio.
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